Piper sp.- É uma folha de força, que acalma, apazigua...
Obs: Opeére é uma ave africana que está ligado ao culto de Ossayin. Assim como Eyé, voa e informa ao seu Senhor tudo que acontece na Floresta Sagrada.
Folhas Candomblé e Meio Ambiente
Quando Olorun criou o aye (mundo) decidiu encarregar Ossayin de organizar o que havia sido criado. Assim que foi informado de sua missão Ossayin tratou de preparar-se para a sua caminhada até o aye, pois esta seria longa. Separou diversas cabacinhas, chamadas de adô, aonde guardava todo tipo de coisa; folhas, favas e omim (água). Este orixá era conhecido entre os demais por ser um grande conhecedor dos segredos das folhas, sendo até mesmo temido por alguns, uma vez que a mesma folha que cura também pode matar. Apenas ele, o Senhor das Folhas, conhecia o ofó (encantamento secreto) para liberar a força mágica, o axé de cada folha.
Antes do sol se levantar pôs o pé na estrada, não antes de recitar as suas adura matutinas, enquanto mascava alguns grãos de ataare (pimenta-da-costa):
-Mo júbà Baba mi! Mo júbà o Iyá mi!
- Ilè mo juba!
-Mo adupe Orunmilá, Baba Ifa. Olojo Oni adupe o!
-Mojuba Esu Olonan! Esu mase!
Ossayin se vestia com uma roupa feita de folhas, aonde uma se destacava, o wérénjéjé. Na sua mão carregava sua ferramenta, um feixe de sete hastes em forma de leque, que utilizava muitas vezes para preparar a terra em que iria depositar suas sementes. Além de sua ferramenta, o “Senhor das Folhas” sempre trazia em seu ombro Eyé o pássaro. Este era o seu mensageiro, cada fato novo que observava na mata ia logo contando ao seu senhor. Quando nascia uma planta nova Eye informava a Ossayin que para lá se encaminhava, saudando a nova erva e procurando logo desvendar os seus segredos. Esse pássaro, ao retornar com as novidades, sempre pousava na haste central da ferramenta de seu senhor.
No meio do caminho avistou Ogun, que andava rapidamente, carregando o seu inseparável obé.
-Ogunhe, Patakori!! Gritou Osssayin ao longe.
-Ewe o! Exclamou alegremente o Senhor de Ire, que logo quis saber o que seu amigo fazia por aquelas bandas. Logo que ficou sabendo o porquê da sua viagem quis acompanhá-lo, pois Ogun adorava conhecer lugares novos e distantes. Ossayin ficou muito contente em saber que teria a companhia de um amigo na sua empreitada. Para comemorar ofereceu a Ogún o fruto predileto dos orixás, o obi. Com os dentes abriu o fruto, que se partiu em duas partes, após envolvê-las em uma folha ofereceu metade para Ogún.
Após muito caminharem chegaram ao ponto que unia o orun ao aye, um grande pé de Iroko, cuja copa se erguia majestosa e imponente além das nuvens. Os dois orixás saudaram a grande árvore com muito respeito, pois se tratava de uma árvore muito antiga e que servia de morada para as temidas Yami Osorongá e para os espíritos conhecidos por abikú. Descendo por seus galhos chegaram até o aye, ficando impressionados com a paisagem magnífica que havia sido criada por Olorun.
Como estava ansioso para começar o trabalho Ogún foi logo sacando o seu obé, em direção a uma trepadeira que lhe atrapalhava a passagem, no que foi detido imediatamente por Ossayin:
-Essa folha não pode cortar, é akonijé, folha da fala. Pertence à mim e também à Osun, serve para curar mordida de idan (cobra).
Ogún então foi para outra parte, erguendo o seu facão em direção a outra folha, no que foi detido por Ossayin:
-Ewe o! Essa folha também não, é ewé lara, folha de Osalá. Serve para oferecer comida de orixá, curar dor de cabeça e pé cansado.
Em direção a outra folha novamente Ogún foi detido:
-Essa também não se corta, é peregún. Esqueceu que essa folha lhe pertence Ogún? Além do mais ela é fundamental no àgbo.
-É mesmo, havia esquecido. Disse Ogún, que ao avistar outra folha já foi logo dizendo:
-Essa eu não corto de jeito nenhum, é o igi òpè, árvore de meu pai Osalá e uma das minhas moradas. É dela também que eu retiro a minha roupa, o màrìwò. -“Ogún ko l’aso, màrìwò l’aso Ogún”. Cantou alegremente o orixá.
O tempo foi passando e Ogún começou a ficar preocupado, pois Ossayin não permitia que nenhuma folha fosse arrancada. Entretanto era necessário que o local fosse preparado para a chegada do homem no aye,.por isso Olorun colocou Ogún no caminho de Ossayin. Ogún era o “Senhor dos Caminhos”, quem os abria, aquele que vinha na frente, por isso chamado Asiwaju. Cabia ao mesmo fundar a primeira aldeia, para que os homens pudessem povoá-la e iniciar o culto aos orixás. Vendo que nada poderia ser feito diante do impasse gerado por Ossayin decidiram que o melhor era voltarem para o Orun.
Chegando na morada de Olódùmarè, os mesmos já eram esperados pelo “Senhor do Orun”. Suas vestes eram brancas e seu rosto, jamais visto por nenhum orixá, se apresentava coberto por um filá de contas marfim. Ao se aproximarem de Olorun os dois orixás se prostraram ao chão dando dòbálè ao “Grande Pai”, em seguida beijando-lhe as mãos.
-Pai perdão, falhei na minha missão. Disse Ossayin, extremamente triste.
-Acalma-te meu filho, disse calmamente Olorun. Esú, meu mensageiro, já me pôs a par de tudo. Conheço cada um dos meus filhos e suas limitações. Quando lhe enviei para essa missão foi com o objetivo que tu distribuísse o seu axé para todas as folhas do aye. Agora tu deverás permanecer aqui no orun, para que Ogún possa voltar e terminar a missão. Quando a primeira cidade estiver estabelecida voltarás novamente ao aye, aonde escolherás um homem de sua confiança. Esse homem será chamado Babalossayin e deverá ser dotado de uma ótima memória, pois a ele tu ensinarás seus segredos; o nome secreto de cada folha, seu uso terapêutico e litúrgico, assim como os ofó necessários para liberar o seu axé. Tu conversarás com ele principalmente através de iká.
-Agora apressa-te Ogún, pois o odú que te rege é étà ògúndá. E como bem sabes este caminho trás muito trabalho e dificuldades.
Após ouvirem atentamente as sabias palavras de seu Pai os dois orixás se despediram respeitosamente e foram de encontro aos seus destinos, tão bem traçados por Olódùmarè.
Aí vai o korin ewe para a folha do ewe itá (pitanga - Eugenia pitanga). Na verdade essa cantiga também serve para a folha de étipónlá, conhecida como erva-tostão ou agarra-pinto (Boerhaavia difussa).
Ifá owó Ifá omo
Ewé étipónlá 'bà Ifá orò
Itá owo Itá omo
Ewé étipónlá 'bà Ifá orò
Orunmilá é quem traz boa sorte e dinheiro
A folha de erva-tostão é abençoada por Orunmilá
Folha de pitanga é quem traz boa sorte e dinheiro
A folha de erva-tostão é abençoada por Orunmilá
outra versão:
A fí pa burúrú,a fí pa burúrú
Etiponlá wa fi pá burúrú
Ita owó, ita omo
Etiponlá wa fi pá burúrú
Nós utilizamos para acabar com as complicações
Etiponlá que nós usamos para acabar com as complicações
A folha de Ita atrai dinheiro, Ita atrai filhos
Etiponlá que nós usamos para acabar com as complicações
Quando cantamos essa cantiga é costume se arrastar as folhas desses ewe no chão da entrada do barracão até a ení do iyawo, para trazer prosperidade e proteção para todos da casa. Também é comum espalhar suas folhas pelo chão do barracão durante o sirè, demonstrando assim a sua importância.
O ewe ítá é uma folha de muita força, utilizada para atrair felicidade e sorte (asé odara), pertencendo a Ossayin e Osun. É uma folha quente, devendo ser usada com cuidado, principalmente pelos filhos do orisá dos Caminhos (Ogun)...
As folhas de étipónlá, assim como o pèrègún (Dracaena fragans) são um ótimo remédio contra feitiços mandados e aproximação de égun. É facilmente encontrada, crescendo espontaneamente em calçadas e vias públicas. Deve ser utilizada em pouca quantidade, pois pode causar ardencia e irritação na pele (coceira). Costuma ser atribuída a dois orixás quentes: Sango e Oyá, sendo em alguns casos também ligada a Ifá.
Não confundir com a cantiga abaixo, que é do ataare (pimenta da costa- Aframomum melegueta):
ÈTA OWÓ ÈTA OMO
ÁTÁARÈ IKÚ GBOGBO GB’ÉRÙ RE O
TRÊS É DINHEIRO, TRÊS É FILHO
ÁTÁARÉ, LEVE TODOS OS CARREGOS DA MORTE
IFÁ OWO, IFÁ OMO
ÁTÁRÉ KUN GBOGBO BE LÚLÈ
Com o crescimento da nossa religião e o surgimento de novas casas de candomblé e umbanda a utilização das áreas verdes remanescentes se reflete muitas vezes em um problema ambiental, o dilema está em como continuar utilizando esses espaços sem aumentar ainda mais a sua degradação. Nessa hora devemos recorrer ao conhecimento deixado por nossos mais velhos e também ao bom censo. Antes de sair de sua casa se pergunte: Será que essa oferenda não pode ser depositada junto ao igbá do orixá que se quer agradar, no próprio Ilé Asé? Alguns filhos ou clientes podem não possuir um assentamento individual, nesse momento deve-se relembrar o conceito que os nossos ancestrais africanos tinham de EGBÉ, ou seja comunidade. Para eles a energia era entendida de forma coletiva, ou seja “um por todos e todos por um”. Exemplificando, quando o Ogun da aldeia (do Egbé) era cultuado o axé desse orixá seria dividido para todos os membros da comunidade. Esse conceito é bem interessante, uma vez que diminui os custos financeiros e ambientais, uma vez que a quantidade de resíduos produzidos é bem menor. Por outro lado o axé, quando compartilhado, tende a ser bem maior pois a união nos torna muito mais fortes.
Caso Ifá determine que a oferenda PRECISA ser levada para fora do Ilé Asé devemos tomar os cuidados necessários para que ao final da obrigação o meio ambiente esteja o mínimo degrado possível. Assim evite deixar garrafas, copos e vasilhas. Esú adora um otin (cachaça), entretanto a garrafa não precisa permanecer no local. Osun adora espelhos e pentes, mas será que ela iria ficar feliz em ver o seu rio todo poluído, com os seus peixes morrendo contaminados? PENSE e REFLITA! Os elementos utilizados nos ebós sempre (ou quase sempre) poderão ser substituídos por outros menos impactantes ao meio ambiente.
Podemos fazer muito para contribuir com a preservação do Meio Ambiente, mesmo em atitudes muito simples, como cultivo de algumas plantas em nossa casa. Tradicionalmente, algumas ervas só podem ser retiradas para o culto quando as mesmas crescem espontaneamente. Entretanto nada impede que você tenha um pé de odundun (folha da costa), um peregún (pau-d’água) ou um igi okpé (dendezeiro). Dentro desse aspecto é importantíssimo que preservemos as nossas árvores sagradas dentro de nossas casas de culto. São elas que servirão de morada para diversos espíritos (iwin e abikú), assim como orixás (Apaoká e Iroko) e Voduns (Atin sá). Quando uma planta cresce ela retira gás carbônico da atmosfera, isso reduz o aquecimento do planeta. Vamos plantar mais árvores, principalmente as nativas da nossa região. Toda folha tem uma aplicação, todas elas têm um(a) dono(a), é só descobrir.
Entre os orisas cultuados, há um em especial que é reconhecidamente dos mais importantes no panteão yorubá: é Ori (cabeça). Neste caso, não se trata pura e simplesmente da cabeça física visível, mas sim do Ori-inú (a cabeça interior), a nossa cabeça espiritual. O ori é tido pelos yorubás como o Deus pessoal, aquele que lhe está mais Próximo, ligado e interessado nos assuntos do seu devoto, mais do que qualquer outro orisá. Há um ditado que diz”Nada que não tenha sido sancionado pelo Ori de alguém, nenhum orisá será capaz de realizar”. Isto é, tudo tem que ser sancionado primeiramente pelo Ori de cada pessoa para que aquilo possa ser alcançado por ela.
Existe a crença pelos yorubá de que antes do nosso nascimento físico (no aiyé-terra) nós escolhemos os nossos Ori no orun-céu, o que implica um conceito de predestinação acreditado pelos yorubá tradicionais que atribuem os sucessos ou falhas, vida ou morte prematura, riqueza ou pobreza, etc.,como alguns dos aspectos já predestinados pela escolha do Ori antes da sua vinda para o aiyé.
Quando uma pessoa vai a um Babalawo e ele coloca que essa pessoa necessita fazer oferendas a seu Ori (ebori), ele quer dizer que a cabeça daquela pessoa necessita de um pequeno reparo ou retoque, de acordo com o que disse anteriormente ou, simplesmente- caso essa pessoa não tenha problemas mais sérios, estando o seu Ori totalmente recuperado- que ela deva simplesmente propiciar (agradar) o seu Ori com uma oferenda, como se fosse um agradecimento pela proteção e bênçãos recebidas, pelas boas coisas alcançadas, etc..
Para se fazer uma oferenda, há que levar-se em consideração a trilogia Odù, Ori e Orisá.
O odù é o caminho é o caminho escolhido pelo Ori quando de sua viagem para o aiyé; este caminho já fora percorrido, pois, no momento em que a criança nasce, é o momento da chegada, e o caminho não pode mais ser modificado, na medida em que seu trajeto já é passado. E, durante esta viagem, algumas coisas ficarão marcadas naquele Ori, algumas leves, outras profundas.
Aquelas marcas leves são coisas que o Odú diz no jogo, mas que podem ser sanadas ou modificadas. As profundas são aquelas que, embora possam ser remediadas, deixam seqüelas, ou que, tão profundos danos causaram que não há como consertá-las. Seria mais ou menos como um programa de computador, onde algumas coisas você pode acrescentar ou deletar em novos dados, porém há partes que não podem ser modificadas ou deletados, a menos que se apague as informações do disco rígido, onde se encontra a memória do computador que executa a memória do computador que executa a memória do computador que executa todos os programas, isto é, só mesmo a morte.
Dizem alguns que se pode mudar o Odù, não é bem assim; pode-se modificar essas gravações do Odù mas, jamais, “despachar”o Odù e “assentar” outro em seu lugar. Se isso pudesse ser feito, nossas vidas seriam uma maravilha.Muitas pessoas dizem serem capazes de despachar o seu Odù e assentar outro “melhor”, para quase totalidade das pessoas é o Odú Obará.
É quase que uma fixação coletiva, pois Obará é um Odú que tem um caminho de riqueza, digamos, mais largo, mais ou menos “facilitado”(desde que se faça por onde, ou ate mesmo, que se possua uma pitadinha de sorte). Mas, também, não é bem assim. Primeiro: Não se despacha o Odú, segundo: não adianta “assentar” Obará para quem não pertence a este Odú, terceiro: todos os Odú são meji, isto é, têm dois pólos, um positivo e outro negativo. Portanto, quando há problemas de Odú com uma pessoa, uma vez identificado qual o seu Odú, fazem-se trabalhos para propiciá-lo, despachando as negatividades e tornando-o positivo ou, pelo menos equilibrado. Isto, é o que limpa os caminhos da pessoa e abre passagem então para cuidar-se do Ori e do Orisá.
ADAPTADO DE TRÊS TEXTOS DE ALTAIR T’OGUN.