sábado, 27 de março de 2010

O CONCEITO YORUBÁ DE ORI


Entre os orisas cultuados, há um em especial que é reconhecidamente dos mais importantes no panteão yorubá: é Ori (cabeça). Neste caso, não se trata pura e simplesmente da cabeça física visível, mas sim do Ori-inú (a cabeça interior), a nossa cabeça espiritual. O ori é tido pelos yorubás como o Deus pessoal, aquele que lhe está mais Próximo, ligado e interessado nos assuntos do seu devoto, mais do que qualquer outro orisá. Há um ditado que diz”Nada que não tenha sido sancionado pelo Ori de alguém, nenhum orisá será capaz de realizar”. Isto é, tudo tem que ser sancionado primeiramente pelo Ori de cada pessoa para que aquilo possa ser alcançado por ela.

Existe a crença pelos yorubá de que antes do nosso nascimento físico (no aiyé-terra) nós escolhemos os nossos Ori no orun-céu, o que implica um conceito de predestinação acreditado pelos yorubá tradicionais que atribuem os sucessos ou falhas, vida ou morte prematura, riqueza ou pobreza, etc.,como alguns dos aspectos já predestinados pela escolha do Ori antes da sua vinda para o aiyé.

Quando uma pessoa vai a um Babalawo e ele coloca que essa pessoa necessita fazer oferendas a seu Ori (ebori), ele quer dizer que a cabeça daquela pessoa necessita de um pequeno reparo ou retoque, de acordo com o que disse anteriormente ou, simplesmente- caso essa pessoa não tenha problemas mais sérios, estando o seu Ori totalmente recuperado- que ela deva simplesmente propiciar (agradar) o seu Ori com uma oferenda, como se fosse um agradecimento pela proteção e bênçãos recebidas, pelas boas coisas alcançadas, etc..

Para se fazer uma oferenda, há que levar-se em consideração a trilogia Odù, Ori e Orisá.

O odù é o caminho é o caminho escolhido pelo Ori quando de sua viagem para o aiyé; este caminho já fora percorrido, pois, no momento em que a criança nasce, é o momento da chegada, e o caminho não pode mais ser modificado, na medida em que seu trajeto já é passado. E, durante esta viagem, algumas coisas ficarão marcadas naquele Ori, algumas leves, outras profundas.

Aquelas marcas leves são coisas que o Odú diz no jogo, mas que podem ser sanadas ou modificadas. As profundas são aquelas que, embora possam ser remediadas, deixam seqüelas, ou que, tão profundos danos causaram que não há como consertá-las. Seria mais ou menos como um programa de computador, onde algumas coisas você pode acrescentar ou deletar em novos dados, porém há partes que não podem ser modificadas ou deletados, a menos que se apague as informações do disco rígido, onde se encontra a memória do computador que executa a memória do computador que executa a memória do computador que executa todos os programas, isto é, só mesmo a morte.

Dizem alguns que se pode mudar o Odù, não é bem assim; pode-se modificar essas gravações do Odù mas, jamais, “despachar”o Odù e “assentar” outro em seu lugar. Se isso pudesse ser feito, nossas vidas seriam uma maravilha.Muitas pessoas dizem serem capazes de despachar o seu Odù e assentar outro “melhor”, para quase totalidade das pessoas é o Odú Obará.

É quase que uma fixação coletiva, pois Obará é um Odú que tem um caminho de riqueza, digamos, mais largo, mais ou menos “facilitado”(desde que se faça por onde, ou ate mesmo, que se possua uma pitadinha de sorte). Mas, também, não é bem assim. Primeiro: Não se despacha o Odú, segundo: não adianta “assentar” Obará para quem não pertence a este Odú, terceiro: todos os Odú são meji, isto é, têm dois pólos, um positivo e outro negativo. Portanto, quando há problemas de Odú com uma pessoa, uma vez identificado qual o seu Odú, fazem-se trabalhos para propiciá-lo, despachando as negatividades e tornando-o positivo ou, pelo menos equilibrado. Isto, é o que limpa os caminhos da pessoa e abre passagem então para cuidar-se do Ori e do Orisá.

ADAPTADO DE TRÊS TEXTOS DE ALTAIR T’OGUN.

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