domingo, 4 de abril de 2010

Itan Ossayin (As Folhas Sagradas)


Quando Olorun criou o aye (mundo) decidiu encarregar Ossayin de organizar o que havia sido criado. Assim que foi informado de sua missão Ossayin tratou de preparar-se para a sua caminhada até o aye, pois esta seria longa. Separou diversas cabacinhas, chamadas de adô, aonde guardava todo tipo de coisa; folhas, favas e omim (água). Este orixá era conhecido entre os demais por ser um grande conhecedor dos segredos das folhas, sendo até mesmo temido por alguns, uma vez que a mesma folha que cura também pode matar. Apenas ele, o Senhor das Folhas, conhecia o ofó (encantamento secreto) para liberar a força mágica, o axé de cada folha.

Antes do sol se levantar pôs o pé na estrada, não antes de recitar as suas adura matutinas, enquanto mascava alguns grãos de ataare (pimenta-da-costa):

-Mo júbà Baba mi! Mo júbà o Iyá mi!

- Ilè mo juba!

-Mo adupe Orunmilá, Baba Ifa. Olojo Oni adupe o!

-Mojuba Esu Olonan! Esu mase!

Ossayin se vestia com uma roupa feita de folhas, aonde uma se destacava, o wérénjéjé. Na sua mão carregava sua ferramenta, um feixe de sete hastes em forma de leque, que utilizava muitas vezes para preparar a terra em que iria depositar suas sementes. Além de sua ferramenta, o “Senhor das Folhas” sempre trazia em seu ombro Eyé o pássaro. Este era o seu mensageiro, cada fato novo que observava na mata ia logo contando ao seu senhor. Quando nascia uma planta nova Eye informava a Ossayin que para lá se encaminhava, saudando a nova erva e procurando logo desvendar os seus segredos. Esse pássaro, ao retornar com as novidades, sempre pousava na haste central da ferramenta de seu senhor.

No meio do caminho avistou Ogun, que andava rapidamente, carregando o seu inseparável obé.

-Ogunhe, Patakori!! Gritou Osssayin ao longe.

-Ewe o! Exclamou alegremente o Senhor de Ire, que logo quis saber o que seu amigo fazia por aquelas bandas. Logo que ficou sabendo o porquê da sua viagem quis acompanhá-lo, pois Ogun adorava conhecer lugares novos e distantes. Ossayin ficou muito contente em saber que teria a companhia de um amigo na sua empreitada. Para comemorar ofereceu a Ogún o fruto predileto dos orixás, o obi. Com os dentes abriu o fruto, que se partiu em duas partes, após envolvê-las em uma folha ofereceu metade para Ogún.

Após muito caminharem chegaram ao ponto que unia o orun ao aye, um grande pé de Iroko, cuja copa se erguia majestosa e imponente além das nuvens. Os dois orixás saudaram a grande árvore com muito respeito, pois se tratava de uma árvore muito antiga e que servia de morada para as temidas Yami Osorongá e para os espíritos conhecidos por abikú. Descendo por seus galhos chegaram até o aye, ficando impressionados com a paisagem magnífica que havia sido criada por Olorun.

Como estava ansioso para começar o trabalho Ogún foi logo sacando o seu obé, em direção a uma trepadeira que lhe atrapalhava a passagem, no que foi detido imediatamente por Ossayin:

-Essa folha não pode cortar, é akonijé, folha da fala. Pertence à mim e também à Osun, serve para curar mordida de idan (cobra).

Ogún então foi para outra parte, erguendo o seu facão em direção a outra folha, no que foi detido por Ossayin:

-Ewe o! Essa folha também não, é ewé lara, folha de Osalá. Serve para oferecer comida de orixá, curar dor de cabeça e pé cansado.

Em direção a outra folha novamente Ogún foi detido:

-Essa também não se corta, é peregún. Esqueceu que essa folha lhe pertence Ogún? Além do mais ela é fundamental no àgbo.

-É mesmo, havia esquecido. Disse Ogún, que ao avistar outra folha já foi logo dizendo:

-Essa eu não corto de jeito nenhum, é o igi òpè, árvore de meu pai Osalá e uma das minhas moradas. É dela também que eu retiro a minha roupa, o màrìwò. -“Ogún ko l’aso, màrìwò l’aso Ogún”. Cantou alegremente o orixá.

O tempo foi passando e Ogún começou a ficar preocupado, pois Ossayin não permitia que nenhuma folha fosse arrancada. Entretanto era necessário que o local fosse preparado para a chegada do homem no aye,.por isso Olorun colocou Ogún no caminho de Ossayin. Ogún era o “Senhor dos Caminhos”, quem os abria, aquele que vinha na frente, por isso chamado Asiwaju. Cabia ao mesmo fundar a primeira aldeia, para que os homens pudessem povoá-la e iniciar o culto aos orixás. Vendo que nada poderia ser feito diante do impasse gerado por Ossayin decidiram que o melhor era voltarem para o Orun.

Chegando na morada de Olódùmarè, os mesmos já eram esperados pelo “Senhor do Orun”. Suas vestes eram brancas e seu rosto, jamais visto por nenhum orixá, se apresentava coberto por um filá de contas marfim. Ao se aproximarem de Olorun os dois orixás se prostraram ao chão dando dòbálè ao “Grande Pai”, em seguida beijando-lhe as mãos.

-Pai perdão, falhei na minha missão. Disse Ossayin, extremamente triste.

-Acalma-te meu filho, disse calmamente Olorun. Esú, meu mensageiro, já me pôs a par de tudo. Conheço cada um dos meus filhos e suas limitações. Quando lhe enviei para essa missão foi com o objetivo que tu distribuísse o seu axé para todas as folhas do aye. Agora tu deverás permanecer aqui no orun, para que Ogún possa voltar e terminar a missão. Quando a primeira cidade estiver estabelecida voltarás novamente ao aye, aonde escolherás um homem de sua confiança. Esse homem será chamado Babalossayin e deverá ser dotado de uma ótima memória, pois a ele tu ensinarás seus segredos; o nome secreto de cada folha, seu uso terapêutico e litúrgico, assim como os ofó necessários para liberar o seu axé. Tu conversarás com ele principalmente através de iká.

-Agora apressa-te Ogún, pois o odú que te rege é étà ògúndá. E como bem sabes este caminho trás muito trabalho e dificuldades.

Após ouvirem atentamente as sabias palavras de seu Pai os dois orixás se despediram respeitosamente e foram de encontro aos seus destinos, tão bem traçados por Olódùmarè.

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