domingo, 28 de março de 2010

Ewe Itá/ Ewe Étipónlá



Aí vai o korin ewe para a folha do ewe itá (pitanga - Eugenia pitanga). Na verdade essa cantiga também serve para a folha de étipónlá, conhecida como erva-tostão ou agarra-pinto (Boerhaavia difussa).



Ifá owó Ifá omo

Ewé étipónlá 'bà Ifá orò

Itá owo Itá omo

Ewé étipónlá 'bà Ifá orò


Orunmilá é quem traz boa sorte e dinheiro

A folha de erva-tostão é abençoada por Orunmilá

Folha de pitanga é quem traz boa sorte e dinheiro

A folha de erva-tostão é abençoada por Orunmilá

outra versão:


A fí pa burúrú,a fí pa burúrú

Etiponlá wa fi pá burúrú

Ita owó, ita omo

Etiponlá wa fi pá burúrú


Nós utilizamos para acabar com as complicações

Etiponlá que nós usamos para acabar com as complicações

A folha de Ita atrai dinheiro, Ita atrai filhos

Etiponlá que nós usamos para acabar com as complicações


Quando cantamos essa cantiga é costume se arrastar as folhas desses ewe no chão da entrada do barracão até a ení do iyawo, para trazer prosperidade e proteção para todos da casa. Também é comum espalhar suas folhas pelo chão do barracão durante o sirè, demonstrando assim a sua importância.


O ewe ítá é uma folha de muita força, utilizada para atrair felicidade e sorte (asé odara), pertencendo a Ossayin e Osun. É uma folha quente, devendo ser usada com cuidado, principalmente pelos filhos do orisá dos Caminhos (Ogun)...


As folhas de étipónlá, assim como o pèrègún (Dracaena fragans) são um ótimo remédio contra feitiços mandados e aproximação de égun. É facilmente encontrada, crescendo espontaneamente em calçadas e vias públicas. Deve ser utilizada em pouca quantidade, pois pode causar ardencia e irritação na pele (coceira). Costuma ser atribuída a dois orixás quentes: Sango e Oyá, sendo em alguns casos também ligada a Ifá.


Não confundir com a cantiga abaixo, que é do ataare (pimenta da costa- Aframomum melegueta):


ÈTA OWÓ ÈTA OMO

ÁTÁARÈ IKÚ GBOGBO GB’ÉRÙ RE O

TRÊS É DINHEIRO, TRÊS É FILHO

ÁTÁARÉ, LEVE TODOS OS CARREGOS DA MORTE

IFÁ OWO, IFÁ OMO

ÁTÁRÉ KUN GBOGBO BE LÚLÈ

Yemonjá Ogunté, a mãe guerreira


Yemonjá foi casada com Osògìnyón, orisá fúnfun muito guerreiro e grande apreciador de inhame pilado. Essa união teve como fruto uma criança ao qual deram o nome OgunJá, pois ao nascer já era sabido pelos pais através de Ifá que o mesmo era regido por um odu com características violentas e guerreiras. Devido ao seu odu de nascimento OgunJá deveria sempre se vestir com roupas brancas, e jamais fazer uso do epo pupa (óleo de dendê), embora o mesmo se senti-se extremamente atraído a fazê-lo. O filho de Yemonjá cresceu, se tornando a exemplo de seu pai excelente guerreiro. Era um grande conquistador, porém não costumava fazer prisioneiros, matava a todos. Suas comidas prediletas eram o inhame e o ajá (cachorro), motivo pelo qual muitos cantavam quando o viam: Àwa dé èyin, aworò rí Ògún je ajá!!
OgúnJá havia conquistado várias cidades pertencentes a cada um dos orisás. Revoltados os orisás se reuniram e formaram vários exércitos para dete-lo, OgúnJá venceu todos os exércitos. Vendo todos os seus exércitos vencidos os orisás decidiram eles mesmos guerrearem com OgúnJá. Temendo pelo seu filho que fatalmente seria vencido Yemonjá pegou a espada de seu marido vestiu-se com uma armadura e foi ao encontro de OgúnJá, antes que os outros Orisás o encontrassem. Yemonjá lutou com OgúnJá e o venceu. Vendo-se vencido OgúnJá pediu para que aquele que o tinha vencido em uma batalha mostra-se o seu rosto. Foi então que Yemonjá retirou a armadura que lhe cobria o rosto. Ao chegarem a praia os demais orisás vendo OgúnJá ajoelhado na areia, aos pés de Yemonjá, gritaram:
-Yemonjá venceu Ogún!! Yemonjá deve ser respeitada!!
Salve Yemonjá Ogunté!!Odo Iyá!!

sábado, 27 de março de 2010

Ewe Ábèbè Òsún- Erva capitão (Hydrocotyle bonariensis)



Folha muito apreciada pela Senhora das Águas, Òsún. Erva de muito asé e que traz muita prosperidade. Sua aparência lembra o abebe (leque ritual) que Òsún (e também Iyemonjá) sempre traz consigo, e que utiliza tanto para se admirar, como para se proteger dos seus inimigos. Outros nomes que recebe são erva-tostão e folha-de-dez-réis, sugerindo que suas folhas lembram moedas, dinheiro. É interessante observarmos que essa denominação vai de encontro a sua utilização nas casas de candomblé, que a utilizam para atrair a prosperidade dessa iyagbá, que ama o ouro. Ainda chamamos o abebê de acariçoba, lodagem, erva-capitão e em Portugal é conhecida como chupa-chupas (pirulitos).

O nome grego Hydrocotyle refere-se à afinidade de muitas destas plantas pela água (Hydro significa água) e ao formato das folhas (kotyle= significa pequena xícara). Existem diversas espécies pertencentes a gênero Hydrocotyle, entretanto podemos destacar duas: a H. vulgaris, que gosta de lugares alagados e possui folhas na posição horizontal (viradas para cima) e a H. bonariensis, que vive em solo arenoso perto da praia com folhas que ficam na vertical (em pé). Segundo os antigos, o abebê utilizado para Òsún seria aquele que nasce na beira d’água, enquanto aquele que nasce em locais secos seria atribuído ao orixá Sango, sendo inclusive uma de suas maiores folhas de fundamento.

A Hydrocotyle bonariensis é uma espécie pioneira, típica de restingas litorâneas, formada por um caule comprido, rastejante, que se subdivide várias vezes e que, a intervalos irregulares, vai lançando hastes verticais, ora com folhas ora com flores. Como o caule está soterrado na areia, só as folhas e inflorescências ficam visíveis. Na praia da Barra da Tijuca essa espécie é vista em abundância vegetando próxima dos quiosques.

Na fitoterapia costuma-se fazer uma espécie de creme com as folhas para aplicar na pele, com o intuito de acabar com manchas e sardas. A ingestão das folhas é contra-indicado, devido às mesmas serem consideradas tóxicas, entretanto suas raízes costumam ser utilizadas em decoctos, tida como diurética e desobstruente do fígado, porém é emética (provoca vômito) em doses fortes. Sua função diurética também faz com que seja utilizada no tratamento de hipertensão arterial. Seu uso durante a gestação deve ser evitado. Pessoa de Barros e Eduardo Napoleão em sua obra Ewé Òrìsà (1999) citam que suas folhas teriam ação calmante e tonificante cerebral, quando ingeridas com leite.

Por isso cantamos para essa folha, que dá poder para quem canta:

Ábèbè ni gbo wa Ábèbè ni n'bó
Ewe ábèbè
Ábèbè ni gbo wa Ábèbè ni n'bó Ewe ábèbè

Tradução livre
É a folha de Abebe que iremos ouvir
Folha que cultuamos sobre a ení
Folha do Abebe

Candomblé e Meio Ambiente, uma parceria antiga




Com o crescimento da nossa religião e o surgimento de novas casas de candomblé e umbanda a utilização das áreas verdes remanescentes se reflete muitas vezes em um problema ambiental, o dilema está em como continuar utilizando esses espaços sem aumentar ainda mais a sua degradação. Nessa hora devemos recorrer ao conhecimento deixado por nossos mais velhos e também ao bom censo. Antes de sair de sua casa se pergunte: Será que essa oferenda não pode ser depositada junto ao igbá do orixá que se quer agradar, no próprio Ilé Asé? Alguns filhos ou clientes podem não possuir um assentamento individual, nesse momento deve-se relembrar o conceito que os nossos ancestrais africanos tinham de EGBÉ, ou seja comunidade. Para eles a energia era entendida de forma coletiva, ou seja “um por todos e todos por um”. Exemplificando, quando o Ogun da aldeia (do Egbé) era cultuado o axé desse orixá seria dividido para todos os membros da comunidade. Esse conceito é bem interessante, uma vez que diminui os custos financeiros e ambientais, uma vez que a quantidade de resíduos produzidos é bem menor. Por outro lado o axé, quando compartilhado, tende a ser bem maior pois a união nos torna muito mais fortes.

Caso Ifá determine que a oferenda PRECISA ser levada para fora do Ilé Asé devemos tomar os cuidados necessários para que ao final da obrigação o meio ambiente esteja o mínimo degrado possível. Assim evite deixar garrafas, copos e vasilhas. Esú adora um otin (cachaça), entretanto a garrafa não precisa permanecer no local. Osun adora espelhos e pentes, mas será que ela iria ficar feliz em ver o seu rio todo poluído, com os seus peixes morrendo contaminados? PENSE e REFLITA! Os elementos utilizados nos ebós sempre (ou quase sempre) poderão ser substituídos por outros menos impactantes ao meio ambiente.

Podemos fazer muito para contribuir com a preservação do Meio Ambiente, mesmo em atitudes muito simples, como cultivo de algumas plantas em nossa casa. Tradicionalmente, algumas ervas só podem ser retiradas para o culto quando as mesmas crescem espontaneamente. Entretanto nada impede que você tenha um pé de odundun (folha da costa), um peregún (pau-d’água) ou um igi okpé (dendezeiro). Dentro desse aspecto é importantíssimo que preservemos as nossas árvores sagradas dentro de nossas casas de culto. São elas que servirão de morada para diversos espíritos (iwin e abikú), assim como orixás (Apaoká e Iroko) e Voduns (Atin sá). Quando uma planta cresce ela retira gás carbônico da atmosfera, isso reduz o aquecimento do planeta. Vamos plantar mais árvores, principalmente as nativas da nossa região. Toda folha tem uma aplicação, todas elas têm um(a) dono(a), é só descobrir.

O CONCEITO YORUBÁ DE ORI


Entre os orisas cultuados, há um em especial que é reconhecidamente dos mais importantes no panteão yorubá: é Ori (cabeça). Neste caso, não se trata pura e simplesmente da cabeça física visível, mas sim do Ori-inú (a cabeça interior), a nossa cabeça espiritual. O ori é tido pelos yorubás como o Deus pessoal, aquele que lhe está mais Próximo, ligado e interessado nos assuntos do seu devoto, mais do que qualquer outro orisá. Há um ditado que diz”Nada que não tenha sido sancionado pelo Ori de alguém, nenhum orisá será capaz de realizar”. Isto é, tudo tem que ser sancionado primeiramente pelo Ori de cada pessoa para que aquilo possa ser alcançado por ela.

Existe a crença pelos yorubá de que antes do nosso nascimento físico (no aiyé-terra) nós escolhemos os nossos Ori no orun-céu, o que implica um conceito de predestinação acreditado pelos yorubá tradicionais que atribuem os sucessos ou falhas, vida ou morte prematura, riqueza ou pobreza, etc.,como alguns dos aspectos já predestinados pela escolha do Ori antes da sua vinda para o aiyé.

Quando uma pessoa vai a um Babalawo e ele coloca que essa pessoa necessita fazer oferendas a seu Ori (ebori), ele quer dizer que a cabeça daquela pessoa necessita de um pequeno reparo ou retoque, de acordo com o que disse anteriormente ou, simplesmente- caso essa pessoa não tenha problemas mais sérios, estando o seu Ori totalmente recuperado- que ela deva simplesmente propiciar (agradar) o seu Ori com uma oferenda, como se fosse um agradecimento pela proteção e bênçãos recebidas, pelas boas coisas alcançadas, etc..

Para se fazer uma oferenda, há que levar-se em consideração a trilogia Odù, Ori e Orisá.

O odù é o caminho é o caminho escolhido pelo Ori quando de sua viagem para o aiyé; este caminho já fora percorrido, pois, no momento em que a criança nasce, é o momento da chegada, e o caminho não pode mais ser modificado, na medida em que seu trajeto já é passado. E, durante esta viagem, algumas coisas ficarão marcadas naquele Ori, algumas leves, outras profundas.

Aquelas marcas leves são coisas que o Odú diz no jogo, mas que podem ser sanadas ou modificadas. As profundas são aquelas que, embora possam ser remediadas, deixam seqüelas, ou que, tão profundos danos causaram que não há como consertá-las. Seria mais ou menos como um programa de computador, onde algumas coisas você pode acrescentar ou deletar em novos dados, porém há partes que não podem ser modificadas ou deletados, a menos que se apague as informações do disco rígido, onde se encontra a memória do computador que executa a memória do computador que executa a memória do computador que executa todos os programas, isto é, só mesmo a morte.

Dizem alguns que se pode mudar o Odù, não é bem assim; pode-se modificar essas gravações do Odù mas, jamais, “despachar”o Odù e “assentar” outro em seu lugar. Se isso pudesse ser feito, nossas vidas seriam uma maravilha.Muitas pessoas dizem serem capazes de despachar o seu Odù e assentar outro “melhor”, para quase totalidade das pessoas é o Odú Obará.

É quase que uma fixação coletiva, pois Obará é um Odú que tem um caminho de riqueza, digamos, mais largo, mais ou menos “facilitado”(desde que se faça por onde, ou ate mesmo, que se possua uma pitadinha de sorte). Mas, também, não é bem assim. Primeiro: Não se despacha o Odú, segundo: não adianta “assentar” Obará para quem não pertence a este Odú, terceiro: todos os Odú são meji, isto é, têm dois pólos, um positivo e outro negativo. Portanto, quando há problemas de Odú com uma pessoa, uma vez identificado qual o seu Odú, fazem-se trabalhos para propiciá-lo, despachando as negatividades e tornando-o positivo ou, pelo menos equilibrado. Isto, é o que limpa os caminhos da pessoa e abre passagem então para cuidar-se do Ori e do Orisá.

ADAPTADO DE TRÊS TEXTOS DE ALTAIR T’OGUN.